O ARTISTA
O prêmio maior da cerimônia deste ano foi para um bom filme. Meu coração, no entanto, batia mais forte por “A Árvore da Vida” e adoraria tê-lo visto vitorioso. Nada mais inusitado do que fazer, em pleno século 21, um filme mudo e em preto em branco, enquanto grande parte da indústria cinematográfica está se rendendo a avanços tecnológicos como a evolução do 3D e do motion capture. O enredo é, em si, extremamente simples, pouco original e previsível. Mas isso pouco importa. A última preocupação do filme é soar original, ou melhor, no caso dele, ser original é justamente imitar um modelo "fora de moda". Desde a primeira sequência, Hazanavicius nos mostra que se trata de um filme de alto teor metalinguístico. O diretor faz uso de diversos recursos típicos do cinema antigo, nos brindando com ótimas gags visuais, sobreposição de imagens, utilizando com frequência a transição de íris (círculo), brincando com a iluminação, com os estilos e gêneros (indo da comédia pastelão ao melodrama e passando pelo aventura de capa e espada, e até mesmo pelo expressionismo alemão numa ótima sequência de sonho). O diretor francês prova não apenas gostar da era de ouro hollywoodiana, como também ser um profundo conhecedor da mesma. O filme faz referências a diversos artistas e é possível identificá-los em vários momentos. Como homenagem, o filme é um delicioso entretenimento e uma aula de cinema. Mas com certeza será esquecido dentro de poucos anos.
A ÁRVORE DA VIDA
É provavelmente o filme mais metafísico de Terrence Malick, um trabalho de recortes, um mosaico de representações e de símbolos. Em meio à exibição de dois momentos da vida do protagonista, a infância e a fase adulta, o diretor reconstitui o nascimento do universo e as diversas formas de vida da natureza. Esteticamente exuberante, parece tentar, através de suas belíssimas imagens, abarcar todos os sentimentos do mundo. Contando com uma fotografia linda de Emmanuel Lubezki e com fantásticos efeitos visuaiss, o filme poderia ser chamado de "O espetáculo da vida". Mas não é um filme de diálogos. A mãe, interpretada com uma sensibilidade maravilhosa por Jessica Chastain, é uma figura silenciosa. Pura representação do amor, ela tem uma relação íntima com a natureza, estando sempre em contato com ela. O pai, interpretado de maneira correta pelo sem-muita-expressão Brad Pitt, é a figura da autoridade. “A Árvore da Vida” é um filme bastante ambicioso. Com qualidades técnicas inegáveis e sensibilidade ao tratar de várias questões humanas, beira a excelência.
AS AVENTURAS DE TINTIM
A primeira animação de Spielberg já tem lugar garantido na lista dos melhores filmes de aventura do diretor. Em “As Aventuras de Tintim”, temos um Spielberg inspirado, que brinca com todas as possibilidades que a câmera digital lhe oferece. Os belíssimos travellings e planos-sequências, marcas do diretor, são abundantes e de uma extrema sofisticação. As sequências de ação são grandiosas e de tirar o fôlego e é impossível não reconhecer Indiana Jones em quase todas as cenas. Mas se não bastasse ser um filme de aventura impecável, também resgata, de certa forma, o gênero capa-e-espada, com vários combates memoráveis, o melhor deles entre Sir Francis Haddock (Andy Serkins, sempre ótimo) e seu arqui-inimigo Sakharine (Daniel Craig, também excelente) a bordo do navio Licorne. Spielberg, como uma criança diante de um brinquedo novo, parece se divertir com as possibilidades da animação. O longa se revela excelente em seus aspectos técnicos, na captura de movimentos, na qualidade da animação. Como era de se esperar, a trilha sonora de John Williams é fantástica (confesso que fiquei apreciando a música do filme durantes os créditos finais). Divertido, eletrizante, o filme é a oportunidade de ver Steven Spielberg em grande forma e de volta à aventura.
HISTÓRIAS CRUZADAS
Uma comédia (melo)dramática que não deixa de ser adorável, mesmo com seus tropeços. Isso se deve aos personagens humanos e encantadores que povoam sua narrativa. Destacando-se ainda pela caprichada direção de arte e figurino, o filme é uma coleção de grandes performances, embalada por uma história emocionante, e ainda se dá ao luxo de usar a participação especial da maravilhosa Sissy Spacek. Dominado por grandes atuações femininas, Viola Davis, comprova seu imenso talento ao fazer de Aibileen uma personagem que carrega a dor no olhar e que parece chorar mesmo quando não está. Octavia Spencer dá um show em cada cena que aparece, assumindo o papel mais cômico do longa. A jovem Emma Stone esbanja carisma e Bryce Dallas Howard está irreconhecível como a vilã do filme, em uma atuação impressionante. Jessica Chastain, que já havia feito um ótimo trabalho em “A Árvore da Vida” (2011), prova sua versatilidade e é, sem dúvida, uma das maiores revelações de 2011. Um drama delicado, mas nada original.
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
O que esperar de um filme dirigido por um dos maiores diretores vivos do cinema sobre a sétima arte? Respondo: puro encanto. Martin Scorsese já havia provado em “O Aviador” (2004) sua maestria ao reconstituir a Era de Ouro de Hollywood. Em “A Invenção de Hugo Cabret”, emociona ao tecer uma bela homenagem ao mestre George Méliès. Uma homenagem a Méliès e uma declaração de amor ao cinema. É um filme feito para adultos que não têm medo de voltar a serem crianças e redescobrir o encantamento que a sétima arte pode provocar em nós. Uma aula de cinema e sobre o cinema. Scorsese não mede esforços para nos impressionar. Já na cena de abertura, através de uma fusão, ele faz engrenagens se transformarem na Place Charles de Gaulle (ou Place de l'Étoile) em Paris. Em seguida, através de um travelling de tirar o fôlego, que atravessa toda a estação Montparnasse, ele nos apresenta a Hugo, o herói da trama. Uma obra memorável, mas está longe dos grandes momentos do diretor.
por Antonio Nahud Júnior
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