quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O tesouro do Lars

Ele não é Midas, mas o que toca vira ouro (ou ganha prêmios em Cannes). Ele também não é santo, mas opera milagres. De quem estou falando? Do diretor dinamarquês Lars Von Trier. Com a capacidade de arrancar a melhor interpretação de atores que não esperamos tais performances, Lars consegue recriar e fazer renascer uma boa interpretação nos atores que trabalham com ele. Foi assim com Björk em Dançando no Escuro, com Nicole Kidman em Dogville e com a namorada do Homem Aranha, Kirsten Dunst em Melancolia.

Como deu pra notar, esse post é sobre Melancolia, o excelente filme de Lars Von Trier. A película com toda certeza está em quase todas as listas de melhores filmes de 2011. A razão está na direção forte do dinamarquês, no ótimo roteiro, em interpretações seguras e viscerais, numa linda fotografia e na boa trilha sonora.


A direção de Lars é de uma grandiosidade na hora de arrancar o melhor de seus atores. Charlotte Gainsbourg (que trabalhou com ele no ótimo Anticristo) dá vida a uma irmã que tem a vida totalmente certinha, seguindo todos os padrões e equilíbrios. No seu oposto, temos Kirsten que faz a irmã viva e apaixonada pelo noivo – feito pelo Alexander Skarsgård. Uma é o lado diferente da moeda da outra. A primeira parte do filme mostra como elas são diferentes e ao mesmo tempo fortes. À medida que a narrativa anda, os papéis se invertem. A irmã segura vai perdendo a fortaleza e a irmã depressiva em estágio profundo acaba dando o alento ao que restou da família. Mas a interpretação que me chamou a atenção (e até a seleção para o elenco) foi a de Kiefer Sutherland. Acostumada a vê-lo em papéis estilo Jack Bauer, é surpreendente encontrar essa verve de bom ator nele, que faz um pai de família equilibrado, centrado e seguro e que ao final sucumbe ao desespero.

A narrativa é super e com identidade, já que fala sobre um assunto pra lá de batido no cinema, o fim do mundo. Especificamente quando um planeta vai se chocar com a terra. Como Lars conseguiu deixar esse clichê interessante e inédito? Amarrando um roteiro perfeito, desde a cena inicial do filme (que é um resumo do que acontece), belíssima e que nos remete ao espetacular Kubrick sem cair na cópia descarada ou sem personalidade. A história vai se desenrolando, as performances acompanhando esse crescimento até o grand finale.

As cenas são marcantes e os atores empenhados. Algumas me marcaram mais como a abertura, a cena em que vemos o grau de depressão de Justine (Kirsten Dunst), a espera pela colisão do planeta, a festa de casamento de Justine no castelo da irmã Claire e o final.

O interessante no filme é a melancolia que atinge a todos. Ela não é apenas o nome da película, mas o sentimento que domina o íntimo até do personagem mais seguro da trama. Melancolia também é o nome do planeta azul (ou blue planet, que também podemos chamar de planeta da tristeza). O título não poderia ser mais encaixado do que esse, pois retrata como a sensação de perda e fim atinge os personagens à medida que o planeta triste azul vai se acercando da terra.

Melancolia é o filme que deve ser visto por todos e com bons olhos. Ele faz uma crítica ao casamento (sendo a festa, a instituição), aos relacionamentos de casais, ao workaholic modo de vida dos dias de hoje e também à hipocrisia que faz parte de alguns relacionamentos e da sociedade. Enfim, é uma obra de arte executada de mão cheia.

Por Sandra Martins.




2 comentários:

  1. Ótimo post Sandrinha, fez um release super bacana da película do Von Trier, tô começando a acreditar que você escreve bem! Muahaha Brincadeirinha! Parabéns pelo texto.

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  2. Eu gostaria de ter escrito algo sobre esse filme, mas, depois de ler o seu texto, só me resta assinar embaixo. O planeta melancolia somos nós, né? Beijos e obrigada pelo belo texto.

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