domingo, 17 de junho de 2012

Quando as aparências enganam



A primeira coisa ao ver “O deus da carnificina” de Roman Polanski é pensar que não parece um filme dele. Nada de ocultismo, nada daqueles crimes loucos e nadica de nada da sexualidade presente em alguns de seus filmes. O que dá na cara que é Polanski é a tradicional abertura e a música de fundo, características de suas obras. Mas é isso mesmo que mostra a versatilidade do diretor, que dessa vez adaptou a peça homônima da francesa Yasmina Reza, que também colaborou para o roteiro da película.




Dessa vez, Polanski trancafiou quatro atores em dois ou três cômodos de um apartamento para discutir um problema causado pelos seus filhos, uma briga de crianças que findou em uma delas com dentes quebrados. Tudo começa quando o casal vivido por Kate Winslet e Christoph Waltz vai ao apartamento de Jodie Foster e John C.Reily para apaziguar e decidir sobre a briga infantil. Os casais iniciam a conversa polidos e interessados em discutir o assunto. Mas ao longo da narrativa, suas características e verdadeiras personalidades vão se mostrando. Alan (Christoph Waltz) é um pai desinteressado e que só se importa com o seu trabalho de advogado, sempre atendendo ao celular e saindo da conversa. Nancy (Winslet) é a esposa que se mostra frustrada com seu casamento. Já Penelope (Jodie Foster) é a mãe que toma exageradamente as dores do filho e culpa Nancy por ela ter um filho agressivo. Michael (Reily) é o marido que tenta tapar o sol com a peneira.



Tudo segue calmo até que os pais decidem agir pior que os filhos e partem para a agressão verbal e até física. O estopim é o abuso de Alan e seu celular, que nunca para de tocar e mostra o pouco caso que ele trata sua vida familiar. Uma das cenas marcantes é quando Nancy perde a paciência e joga o aparelho telefônico dentro de um jarro de tulipas. A cena que se segue a essa também é ótima, com o ataque de risos de Kate e Jodie ao ver o desespero de Alan quando ele “perde” o celular, que tem sua vida toda dentro. A partir daí, todos perdem o senso, falam demais e até tem uma DR, já que eles desabafam como são infelizes em seus relacionamentos.

A briga dos filhos é o pano de fundo para levar à tona toda a fragilidade existente nos relacionamentos dos pais. Comodismos, falta de afeto, excesso de trabalho são mascarados em nome dos filhos e por causa deles, aparece.



Mas o grande achado do filme é como o diretor trabalhou com apenas um cenário e não deixou a narrativa fraca ou cansativa. A pouca cenografia mostrou a competência de Polanski ao fazer um filme para bons atores. No caso, ótimas atrizes, já que elas dominam a película com suas fortes interpretações. Os diferentes ângulos, closes, tomadas e câmeras movimentadas dão toda uma vida ao que seria um resultado fatídico se caísse em mãos erradas. Ainda bem que caiu nas belas mãos de Roman Polanski, que soube dosar até a duração do filme, que nem chega a uma hora e meia, tudo em nome do desenvolvimento da história.

Carnage tem seus toques de humor, drama e nos dá um Polanski diferente daquele que estamos acostumados a ver e um filme que também merece ser visto. E o melhor, nos instiga a ver as outras obras cinematográficas dele.

Por Sandra Martins.

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